quinta-feira, 28 de agosto de 2008




OBSERVATÓRIO DE ITACURUBA, UMA POSSIBILIDADE DE PESQUISAS ASTRONÔMICAS PROFISSIONAIS EM PERNAMBUCO

Por: Prof. Audemário Prazeres

No dia 08 de Março de 2003, no caderno Ciência/Meio Ambiente do Jornal do Commercio, publiquei um artigo intitulado “Meio Rural, Alternativa para Astronomia”.

Neste artigo, comento a real possibilidade de desenvolvimento de observações astronômicas no meio rural, no qual destaco a excelente transparência do céu, e a ausência de poluição luminosa em algumas localidades interioranas como fatores imprescindíveis para a Astronomia observacional. Inclusive, comento uma ótima parceria da A.A.P./ S.A.R., com um equipamento turístico rural, localizado na zona da mata do nosso Estado, onde desenvolvemos inúmeras práticas observacionais com uma qualidade do céu não vista nas grandes cidades.

Pois bem, visitei a cidade de Itacuruba (ver seta no mapa “Nova Itacuruba”), na qual encontra-se situada no Sertão do Moxotó de Pernambuco, no Submédio São Francisco na micro-região de Itaparica cerca de 481 km do Recife.

A cidade possui uma área de 437 Km², tendo suas limitações geográficas ao Norte com a cidade de Belém do São Francisco; ao Sul com a cidade de Rodelas na Bahia; ao Leste com a cidade de Floresta; e a Oeste novamente com a cidade de Belém do São Francisco. A mesma encontra-se pertencente ao semi-árido pernambucano, com uma temperatura média anual de 27°C, e seu acesso é pelas Rodovias BR 232, BR110, PE 360, BR 316 e PE 422.

Uma cidade muito agradável, com ruas bucólicas, bem arborizadas, tendo uma população de pouco mais de 5 mil habitantes de um povo alegre, festeiro e pacato, nos quais preservam seus costumes, muitos deles repassados de geração em geração. A cidade trabalha um slogan denominado como “Jardim Sertanejo” faz jus pelo aspecto de paisagismo que se apresenta a cidade.

Sua economia vem centrada em um mega projeto de piscicultura, onde observamos algumas etapas em pleno funcionamento, o que vem proporcionando boas ofertas de empregos diretos e indiretos.

Mas, o que me chamou a atenção, é no desenvolvimento de um projeto que se enquadra como um verdadeiro diferencial do segmento turístico e no desenvolvimento da Astronomia em nossa região. Refiro-me ao Observatório Astronômico de Itacuruba.

Em encontro firmado com o atual Prefeito o Sr. Romero Magalhães, entreguei em mãos uma cópia do nosso projeto (SAR/AAP): ASTRONOMIA NO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO RURAL”, no qual entendo ser interessante contribuirmos nos anseios do seu município. O mesmo declarou que quando criou o projeto Observatório em sua cidade, tinha como objetivo a projeção que seu município teria com uma atitude pioneira de instalação de um centro de pesquisas astronômicas na região.

Confesso que trata-se de uma iniciativa ousada do atual Prefeito, que juntamente com o projeto envolvendo a piscicultura, demonstra uma visão empreendedora na consolidação do seu município no cenário turístico alternativo, campo este destinado ao Turismo Rural. Como também, vejo no desenvolvimento desse projeto observatório, um forte legado de cunho educacional, com o estimulo da visitação de estudantes de várias localidades, e no fortalecimento das pesquisas astronômicas de relevada importância a nível nacional.

O OBSERVATÓRIO DE ITACURUBA

Primeira Edificação

As instalações do Observatório de Itacuruba encontram-se em fase de construção. Embora, no momento de minha visita (que compreendeu os dias 23 a 29 de Março do corrente ano), a obra se apresenta de forma interrompida, tendo suas recentes estruturas de alvenaria necessitando de uma manutenção, e ainda a existência da vegetação do seu entorno muito acentuada.

Trata-se de duas edificações espaçadas não muito distantes entre si, estando não localizada nas proximidades da cidade. O seu acesso é por meio de uma estrada não asfaltada, na qual encontra-se extremamente prejudicada pelo processo de erosão em vários trechos. Não há sinalização que oriente o visitante até o seu local. Torna-se interessante buscar um nativo da cidade para ser nosso guia.

Ao chegarmos no complexo que compreende o projeto Observatório, avistamos uma edificação que demonstra ser o local de visitação pública, onde provavelmente será o local de eventos, cursos, exposições e observações de contemplação dos astros frente aos visitantes.

Este prédio possui uma escadaria lateral, que permite o acesso a um grande terraço, onde sob ele, vemos a construção em andamento de uma cúpula. Na parte de baixo do prédio, vemos os locais destinados a dois banheiros, uma sala e um ambiente que demonstra ser um mini-auditório, com um pequeno espaço entendido como um terraço com janelas, o que possibilita ao visitante uma vista panorâmica do entorno e também, do que possivelmente será o Observatório principal propriamente dito no alto de uma serra.

Notem na imagem em que estou fazendo o apontamento da coluna em que vai abrigar o telescópio neste primeiro prédio. A mesma encontra-se dissociada da estrutura de lage que compreende a edificação. Esse detalhe no projeto é de suma importância no que concerne as observações de precisão, ou de práticas em astrofotografia. Isto porque, é comum no pisoteamento das pessoas (sejam visitantes ou dos astrônomos), a ocorrência de vibrações na estrutura de lage da edificação, e por conseguinte, interferir diretamente no instrumento o que prejudica na qualidade da observação ou registro fotográfico.

O OBSERVATÓRIO DE ITACURUBA

Segunda Edificação

Vemos no alto da serra, uma outra edificação que demonstra abrigar o telescópio principal, sendo o prédio em sua parte inferior vemos uma sala, um banheiro, uma pequena sala que pode abrigar uma copa, e uma outra que poderá servir como dormitório. Por fim, um pequeno espaço abaixo da escadaria lateral, e um terraço de varanda ao qual estou na imagem, com vista na rampa de acesso ao Observatório.

Em sua parte superior, vemos um pequeno terraço e a construção do local da cúpula com sua base de coluna onde descasará o instrumento. Todo o prédio, foi construído em uma base sólida que compreende ao lajedo natural da serra.


QUAL A IMPORTÂNCIA CIENTÍFICA DE UM OBSERVATÓRIO INSTALADO NO SEMI-ÁRIDO?

Para responder a esta pergunta, primeiramente temos que analisar os Fatores Fundamentais frente à instalação de um telescópio astronômico. Esses fatores são:

a) A nebolusidade

b) A transparência do ar

c) A turbulência no ar

d) As vibrações


a) A Nebulosidade: É evidente que quando o céu encontra-se nublado a observação direta torna-se prejudicada ou por vezes impossível. Neste tópico, as localidades compreendidas no semi-árido se mostram excelentes, onde mesmo nos períodos em que simbolizam o inverno, a demanda de nuvens é bem reduzidas.

b) A Transparência do Ar: É um fator que encontra-se atrelado exclusivamente na densidade atmosférica e sua altitude. É sabido que em regiões desérticas, estando em baixas altitudes, o firmamento se apresenta com uma transparência extraordinária.

c) A Turbulência no Ar: O ar estando com turbulências, originam oscilações e constantes desenfoques no instrumento nos momentos das observações. Essas oscilações ocorrem principalmente nas diferenciais térmicas das várias camadas atmosféricas. No caso do Observatório de Itacuruba, este encontra-se em um local estratégico, pois tem em seu entorno o rio São Francisco, que suas águas são importantes como elemento estabilizador de temperatura e por conseguinte, das turbulências. Por outro lado, vele lembrar que constatamos também a turbulência do ar nas estruturais prediais em que se localizam o instrumento. Nesse caso, torna-se necessário a pintura de tintas com alto teor de dióxido de titânio (tipo esmalte branco). O dióxido de titânio, possui uma propriedade de absorver as radiações infravermelhas e por tanto, produz uma reverberação calórica muito baixa.

d) As Vibrações: Fator importante visto ainda no projeto de construção do prédio que deverá abrigar o instrumento. Ou seja: Coluna de base do instrumento não atrelada a estrutura predial e um sistema eficiente e macio no qual deslizará suavemente a cúpula giratória;


QUAIS AS OBSERVAÇÕES ASTRONÔMICAS CIENTÍFICAS QUE SE PODE REALIZAR EM UM OBSERVATÓRIO INSTALADO NO SEMI-ÁRIDO?

Esta pergunta nos remete a várias repostas. Na verdade, todas as observações de praxe da Astronomia podem ser praticadas no semi-árido. Mas, tem algumas que são de suma importância no desenvolvimento da Astronomia, onde quando desenvolvidas em locais que se apresentam com os Fatores Fundamentais descritos na resposta da pergunta acima são mais apropriadas. Ou seja:

  • A observação dos Asteróides que compreende a sua fotografia e fotometria;

  • Ocultações de estrelas pelos Asteróides;

  • A observação de Cometas;

  • A observação dos Meteoros;

  • As observações de Estrelas Variáveis;

  • As observações de Estrelas Duplas (binárias);

  • As observações relacionadas com Novas e Supernovas;

  • As observações de planetas distantes e seus satélites;

O Sr. Prefeito de Itacuruba, me reportou a participação do Observatório Nacional no projeto Observatório de Itacuruba. Apesar do meu envio de e-mail ao Observatório Nacional solicitando maiores detalhes dessa parceria, até o presente momento em que elaborei este artigo, não obtive resposta.

Então, faço crer que a linha observacional na qual será implantada no Observatório de Itacuruba, seja observações relacionadas em pesquisas de rastreamento automatizado de Asteróides. Pois, é atualmente um campo de pesquisa muito em voga em diversos centros astronômicos renomados do mundo, e o Brasil necessita se firmar nesse segmento observacional, uma vez que temos poucos pesquisadores atuando no rastreamento de asteróides no país, por justamente não termos um observatório instalado em condições privilegiadas como se apresenta este de Itacuruba.

Por fim, espero que o Observatório de Itacuruba venha apresentar no futuro, relavadas pesquisas astronômicas. Como também, nós da Sociedade Astronômica do Recife – S.A.R. e a Associação Astronômica de Pernambuco - A.A.P., estamos empenhados no resgate do projeto, no qual encontra-se agora totalmente reformulado e atualizado: “Um Planetário para a Cidade do Recife”, sejamos o nosso Estado de Pernambuco, com as condições de voltarmos a brilhar, como nos tempos de outrora, em uma referência ativa na Astronomia brasileira.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008














RECEBIMENTO DA COMENDA CIENTIFICA CIENTISTA SAMUEL CUNHA FILHO

Faço registrar alguns momentos da entrega a minha pessoa da importante Comenda Científica Cientista Samuel Cunha Filho. Trata-se de um evento realizado no dia 04 de Novembro de 2007 no belíssimo Centro de Artesanato da cidade de Bezerros, agreste de Pernambuco cerca de 120 Km da cidade do Recife. Ao qual recebi das mãos da renomada cientista brasileira Dra. Rosaly M. Lopes, principal cientista do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA na Califórnia (U.S.A.).

Não posso negar que essa condecoração foi muito importante para minha pessoa. Afinal, o recebimento dessa Comenda é algo que posso remeter a um blinde por minha Boda de Prata no exercício de divulgar e praticar a Astronomia durante esses 25 anos. Assim, permitam-me recordar o momento por trás do recebimento do Prêmio Nobel de Física concebido pelo cientista americano, nascido na Alemanha, Hans A. Bethe, em 1967. A saber:

Quando Bethe recebeu o prêmio, perguntaram-lhe quais os perigos que a honraria poderia acarretar. E ele respondeu: “Creio que o principal perigo é a possibilidade de, daqui por diante, eu sentir que só posso fazer trabalho importante.”

Fazendo alusão a este momento importante na vida de Hans Bethe, bem como a sua preocupação, é que de certo modo, eu me sinto com o recebimento dessa Comenda.

Então, obrigado a sociedade cientifica brasileira pela lembrança de minha pessoa frente ao recebimento dessa importante Comenda Cientifica Cientista Samuel Cunha Filho.

Audemário Prazeres

Histórico do Dr. SAMUEL CUNHA FILHO

Nasceu em Bezerros/PE, em 21 de janeiro de 1931.

Filho de Samuel Domingos da Cunha e Adélia de Miranda Cunha.

Fez seus estudos primários em sua terra natal.

De 1941 até 1946 estudou no Colégio Marista do Recife.

Em agosto de 1946, com 15 anos de idade, viajou para a Califórnia realizando assim seu sonho de estudar nos Estados Unidos.

De 1946 até 1948 estudou inglês na Escola Preparatória da Universidade de Vila Nova na Califórnia.

Em 1947 ingressou na Universidade de Loyola (dos Jesuítas), onde graduou-se em 1951, com especialização em engenharia civil.

Em 21 de junho de 1952, casou-se com a norte americana Kathleen Flaherty, descendente de Irlandeses, com quem passou quarenta e cinco anos casado e teve seis filhos, que lhes deram oito netos e um bisneto.

Mudou-se para o Recife em 1953.

De 1953 até 1955 foi Gerente Assistente de Operações da ESSO (Standard Oil Company of Brazil).

Em 1955 regressou aos Estados Unidos.

De 1955 até 1961 foi Coordenador da Fábrica Chrysler Corporation, em Los Angeles – Califórnia.

Em 1961 ingressou na Atonics International (indústria nuclear e aeroespacial) onde permaneceu até 1982.

Foi Coordenador do projeto para construção de usinas nucleares (projetos secretos) do Departamento de Defesa dos Estados Unidos.

Trabalhou para NASA, no desenvolvimento e construção do reator atômico destinado ao fornecimento de energia elétrica para a espaçonave Apollo 11, lançada em 16 de julho e na produção do combustível nuclear, para propulsão do módulo lunar “EAGLE” que pousou na lua em 20 de julho de 1969.

Foi condecorado pela NASA pelo sucesso da missão do homem na lua.

Trabalhou na Missão Apollo 13 que se tornou crítica em 13 de abril de 1970 sendo um dos responsáveis pelo retorno à terra, em segurança, dos astronautas James A. Lovell Jr., John L. Swgert e Fred W. Haise Jr. Fato ocorrido em 17 de abril de 1970.

Coincidentemente, Samuel adoeceu criticamente em 13 de abril de 2007 e partiu para o céu com segurança em 17 de abril de 2007.

De 1982 até 1999 trabalhou também como Gerente de Projeto da Divisão de Aeronáutica da Rockwel na construção do bombardeiro B1-B da Força Aérea dos Estados Unidos, para o programa de defesa Guerra nas Estrelas do presidente Ronald Reagan.

Trabalhou nos programas da nave espacial Chalenger e no SR-71. “Blackbord” um avião de reconhecimento estratégico e de longo alcance, capaz de voar com velocidade de 3,2 vezes a velocidade do som e altura de 85.000 pés. Aposentou-se pela Boeing Corporation.

Seus excelentes trabalhos continuam servindo ao povo dos Estados Unidos dentro e fora do país, com aviões estratégicos e tecnologias de defesa para os dias atuais.

Em 22 de janeiro de 2003, já viúvo e aposentado voltou a residir no Recife.

Em 22 de fevereiro de 2003, voltou à sua terrinha “Bezerros City” (como carinhosamente chamava), para ser homenageado.